sábado, 17 de janeiro de 2009

Acordo e didática

Ontem, uma boa matéria no Diário de Canoas (RS):

Não basta só falar, é preciso (re)aprender a escrever
Assimilar as regras e exercitá-las é a dica para se adaptar ao acordo ortográfico.
Letícia Rodrigues/Jornal NH

Novo Hamburgo - As mudanças na escrita da língua portuguesa provocadas pelo acordo ortográfico, que entrou em vigor no dia 1.º de janeiro, andam confundindo muita gente. Para tentar se adequar às novas regras, muitos têm recorrido a cursos e treinamentos. Ontem e hoje, o professor e mestre em linguística aplicada Paulo Flávio Ledur está em Novo Hamburgo ministrando um desses cursos.


Autor de Guia Prático da Nova Ortografia, lançado na Feira do Livro de Porto Alegre de 2008, o estudioso conta que foi contra o acordo por considerá-lo simplificado. “Mas agora precisamos nos adaptar”, diz. Ele explica que as principais modificações estão relacionadas à acentuação e ao emprego do hífen. “Um aspecto positivo é que o número de regras de acentuação foi reduzido em 30%”, informa. O mesmo ocorreu em relação ao hífen. “Ficou um pouco mais fácil entender o emprego, mas ainda assim o assunto continua complexo”, afirma.

Para o professor, quem domina as regras anteriores à mudança terá mais facilidade de se adequar. “Quem não dominar, e a maioria não domina, vai ter que começar do zero”, destaca. A principal dificuldade é a mudança de hábito. Ele cita a palavra autoescola, que agora não tem mais hífen. Como as pessoas estão acostumadas a ver essa palavra escrita com hífen, é estranho vê-la grafada da nova maneira. “É um processo que leva tempo, pois a mudança de hábito não se dá pelo conhecimento.”

E para quem está pensando em comprar um novo dicionário, Ledur aconselha esperar até a publicação do Vocabulário Oficial da Academia Brasileira de Letras, pois ainda há algumas discordâncias. “No Aurélio e no Houaiss, as palavras formadas com o prefixo sub são grafadas de forma diferente. No Houaiss há o hífen e no Aurélio não há. Pelo acordo, o Aurélio está certo. Assim, subregra e subreino são escritas sem hífen”, ensina. Assimilar as regras e exercitar a grafia das palavras é a dica de Ledur para se adaptar à nova ortografia.

Para Ledur, o maior impacto da reforma ortográfica será sentido pelos alunos do ensino fundamental, que já foram alfabetizados e aprenderam as regras de escrita que não estão mais em vigor. “No ano passado, eles aprenderam a forma antiga e agora vão ter que aprender uma nova regra para a grafia de algumas palavras”, explica.

Já aqueles que começarão a estudar a ortografia a partir deste ano não devem sentir a diferença, já que irão aprender as novas regras. Mas, segundo Ledur, para isso é preciso preparar os professores. “Será que eles estão preparados para esta mudança? Essa é a grande questão antes do início do ano letivo”, aponta Ledur. Ele diz que os docentes precisam passar por treinamento. “Até agora, só vi escolas particulares realizando esses cursos”, conta.

Outro problema ocasionado com o acordo ortográfico será em relação às bibliotecas escolares. Os livros, com a ortografia antiga, podem confundir os estudantes. “O problema é pedagógico, pois eles irão aprender uma coisa em sala de aula e ao pegar um livro haverá palavras escritas de forma diferente. Isso pode confundir”.

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