terça-feira, 31 de março de 2009

Reflexões sobre o Acordo

Não se trata de decorar regras, mas entender a fundo o espírito do Acordo... mesmo que haja tantos desacordos.

Um livro que pode ajudar, nesse sentido, foi escrito por Francisco Álvaro Gomes. O título não poderia ser mais simples e direto: O acordo ortográfico. Publicado pelas Edições Flumen e pela Porto Editora, em 2008.

Uma particularidade é que traz a visão de um gramático e escritor português, criticando vários aspectos do Novo Acordo, sem recair no catastrofismo de considerá-lo o fim do mundo, e o fim da língua portuguesa.

domingo, 29 de março de 2009

Jornal educador

Estive ontem, dia 28, em Carazinho (RS), ministrando curso sobre o Novo Acordo Ortográfico na Universidade Luterana do Brasil. E, como quem ensina sempre aprende, descobri que o jornal gaúcho Correio do Povo tomou uma decisão editorial muito interessante.

Em várias de suas páginas, quando surge alguma palavra com nova grafia em virtude do Acordo, ou mesmo quando não é o caso, mas se tem a chance de ensinar, a palavra é destacada e, num boxe, explica-se o porquê de tal grafia.

No exemplo abaixo, a palavra destacada foi "microempreendedores". A explicação no boxe é que o prefixo "micro" somente levará hífen diante de palavras iniciadas por "o" ou "h", como em "micro-ônibus", "micro-ondas" (antes do Acordo, o certo era "microônibus", "microondas", sem hífen), "micro-hidráulico", "micro-história".

sexta-feira, 27 de março de 2009

Espírito "revisador"

Amanhã comemora-se o Dia do Revisor. Em 2001, escrevi um texto a respeito.

O Novo Acordo Ortográfico trouxe trabalho para os revisores. Mas todos podemos e devemos cultivar um pouco desse espírito "revisador". Ler e reler nossos textos, em busca das falhas e deslizes. E, nesses tempos de transição ortográfica, ficar atentos ao que mudou... ou não mudou.

Meus parabéns aos revisores! E a todos os que revisam (e se revisam) todos os dias!

quinta-feira, 26 de março de 2009

(H)erva (h)úmida

No livro Em redor de Africa. Narrativa succinta de factos verdadeiros e de impressoes colhidas em flagrante, ornada com trinta e quatro reproduccoes photographicas (Porto: Typographia da Empreza Litteraria e Typographica, 1915), da autoria do escritor português Eduardo de Noronha (1859-1948), encontramos deliciosa passagem, em que se descrevem as dificuldades de deslocamento na floresta (troncos, ramos, cactos), dificuldades mil que barravam...

"a entrada dos agressores hábeis em se arrastar, silenciosos como reptis, pela herva húmida ou pelas estevas resequidas."

As palavras "herva" e "húmido(a)" tendem a perder o "h" segundo o Novo Acordo. No Brasil, já escrevíamos "erva úmida", mas esta mudança é agressiva aos olhos, mais do que aos ouvidos portugueses. O "h" não altera em nada a pronúncia dessas duas palavras.

A discussão entra no campo da etimologia. Deixemos "erva" de lado por enquanto e nos concentremos no problema da "humidade".

O étimo mais correto é "umidus" ou "humidus"? Há registros de "humido" e "humydo" (século XIV), e de "humedo" (século XV), mas já a partir do século XVI encontram-se também textos com a palavra sem "h".

Na tradição de línguas que adotaram a variante latina com "h", conhecemos humid (inglês), humide (francês) e húmedo (espanhol). Mas a outra variante, sem "h", gerou umido (italiano), umed (romeno) e o nosso "úmido", no Brasil.

Se o Acordo pretende unificar a ortografia da língua portuguesa, a divergência entre o "húmido" de Portugal e o "úmido" brasileiro pedia uma solução. Não há divergências na maioria das palavras iniciadas com "h": "hoje", "hora", "homem", "humor"... Mas era preciso propor algo com relação à "(h)umidade".

A palavra em questão não é mencionada explicitamente pelo Acordo ("erva" é, e lá se estabelece a eliminação do "h" de "herva"). A Base II, dedicada à letra "h" inicial ou final, diz que o "h" será suprimido no início de palavras quando, "apesar da etimologia", esta supressão estiver inteiramente consagrada pelo uso.

Ora, no caso de "úmido", esta grafia está consagrada pelo uso... no Brasil. Mas também está consagrada pelo uso em Portugal a grafia "húmido". O Volp registra apenas "úmido", "umidade" e "umedecer". Talvez, na prática, os portugueses continuem com "húmido", "humidade" e "humedecer", alegando a favor dessa dupla grafia (e outras duplas grafias há) o mesmíssimo argumento da tradição.

Uma polêmica que não ocorreu, e lembra um pouco esta, é o uso do verbo "registrar" no Brasil, ao passo que em Portugal usa-se "registar". O Volp mantém as duas possibilidades, sem traumas. Voltaremos a esse tema um dia. Por ora, fica apenas o registo, ou o registro...

E é nessas horas que percebemos com mais clareza a necessidade de cumprirmos nova etapa na implantação do Acordo. A criação do Vocabulário Comum da Língua Portuguesa, com a participação de todos os países da comunidade lusófona.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Acreano ou acriano?

Um acriano, queixando-se de que o Volp não mais autoriza a grafia "acreano", e registra apenas a forma com sufixo "-iano", desabafou num fórum virtual: "Estou me sentindo mutilado. Sou e serei sempre acreano com muito orgulho."

A 4ª edição do Vocabulário admitia as duas possibilidades: "acreano" e "acriano". A 5ª edição consagra "acriano" como única opção. A justificativa para descartar o "e" e entronizar o "i" é que o nome de origem, "Acre", termina em "e" átono. Por isso quem nasce em Açores é açoriano (o "e" é átono), mas quem nasce na Coréia do Sul (o "e" é tônico) é sul-coreano. Era uma tendência que veio se firmando ao longo do século XX e agora é consagrada pelo Novo Acordo.

Evanildo Bechara tem recebido do Acre dezenas de protestos. Os acrianos querem ser acreanos. Bechara responde: "Vejo no movimento pela manutenção do 'acreano' uma devoção ao nome. Os árabes dizem: dar nomes às coisas é sinal de possuí-las. Então eu vejo o movimento sentimental dos acrianos com alegria, porque vejo o respeito pela forma escrita. Como filólogo, repito, isso me causa muita alegria. Mas como técnico da língua, vejo em 'acreano' com 'e' um erro de história da língua. Quer dizer, nós estamos defendendo 'acreano' em nome da história do Estado, mas contrariando a história da língua. O que há é a história da língua, que é universal, contra a história dos acrianos, que é digna de respeito e admiração, mas é muito pontual."

O poeta Glauco Mattoso põe lenha na fogueira: "Si eu fosse acreano, jamais acceitaria graphar 'acriano', da mesma forma como um alagoano não ia gostar de escrever 'alaguano'."

terça-feira, 24 de março de 2009

Põe hífen... tira hífen...

"Vaga-lume", por exemplo, antes, era escrito assim e também sem hífen: "vagalume". As duas possibilidades estavam autorizadas pela 4ª edição do Vocabulário Ortográfico. Nesta atual 5ª edição, somente a forma hifenizada é permitida.

A 4ª edição nos ensinava que o certo era escrever o verbo "sotopor" sem hífen, e o adjetivo "sotoposto" (ô) também sem hífen. A 5ª edição agora registra a grafia "soto-pôr", sistematizando o hífen em todos os vocábulos iniciados pelo prefixo "soto-". Mas "sotoposto", o particípio passado do verbo, ficará sem o "tracinho trapalhão", bem como as formas conjugadas "sotopus", "sotopuseste", etc.

Por vezes, porém, nem o Volp nos ajudará. O Dicionário Houaiss traz a palavra "super-alma", conceito transcendentalista na filosofia de Ralph Waldo Emerson (1803-1882). Talvez o hífen tenha aparecido por influência do título em inglês, The Over-Soul, que com hífen o autor escreveu. Mas este uso contraria a regra segundo a qual só empregamos o hífen com o prefixo "super-" quando o segundo elemento começa por "h" ou "r".

Na 4ª e na 5ª edições do Volp não aparece este vocábulo. Continuará sendo uma exceção? Ou se tornará "superalma", sem hífen, ao lado de "superaltar", palavra que não consta do Houaiss?

segunda-feira, 23 de março de 2009

Eu zoo no zoo

Eu chamo de "lista da humildade" um recurso muito simples, que o Volp vai ajudar a concretizar. Trata-se de fazer uma lista de palavras alteradas pelas regras do Novo Acordo.

Por exemplo, fazer a lista de palavras em que o hiato "oo" não é mais acentuado: enjoo, voo, sobrevoo, coroo, apregoo, perdoo, coo, amontoo, algodoo, moo, abotoo, abençoo, amaldiçoo, povoo, soo, arpoo, revoo, magoo, aperfeiçoo, acolchoo, afeiçoo, atabalhoo, leiloo, entoo, enxampoo, escoo, heroo, eoo, atroo, ressoo...

Eu "zôo", do verbo "zoar", e o substantivo "zôo" (redução de "jardim zoológico") perdem o circunflexo. O livro de literatura infantil Zôo, de Fabrício Corsaletti e Mariana Zanetti (Editora Hebra, 2005), será Zoo.

domingo, 22 de março de 2009

Duas interrogações

No artigo que escreveu ontem para a Folha de S.Paulo, a professora Thaís Nicoleti de Camargo observa que no Volp a palavra "subumano" aparece seguida de "dois intrigantes pontos de interrogação".

Fui verificar. E, de fato, lá estão. Qual será a dúvida da equipe que preparou o Vocabulário? E por que não há pontos de interrogação depois de "subumanidade"? O Volp também registra "sub-humano" e "sub-humanidade". Estão permitidas, portanto, ambas as formas, com hífen e sem hífen.

A explicação que Evanildo Bechara já deu em algumas entrevistas é que os dicionários sempre tiveram posições diferentes diante das duas possibilidades. O Aurélio só acolhe "subumano", ao passo que o Houaiss registra "subumano" e "sub-humano". A 4ª edição do Volp traz as duas formas. A decisão foi aceitar o peso da tradição (talvez "subumano" tenha vingado por causa de "inumano" e "desumano", sem "h") e adotar a dupla grafia. Se Portugal fará o mesmo, continuamos sem saber, e talvez por isso as duas interrogações.

O Acordo recomenda que se use o hífen nas formações com o prefixo "sub" em que o segundo elemento comece por "h", e cita explicitamente o adjetivo "sub-hepático" (situado debaixo do fígado). No entanto, além desta grafia hifenizada, o Volp traz "subepático" (sem interrogações).

sábado, 21 de março de 2009

Enfim, o Volp

Enfim, chegou às livrarias o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa em sua 5ª edição. O Vocabulário do Novo Acordo.

Mas a polêmica não termina aqui. Esta empreitada foi brasileira, o que fortalece, na opinião pública portuguesa, a impressão de que estamos nós querendo capitanear tudo, "governar a implantação do Acordo", como disse em entrevista o professor José Luiz Fiorin (hoje, na Folha de S.Paulo).

São 878 páginas, 349.737 vocábulos, e cerca de 1.500 estrangeirismos. Um livro para ficar folheando, degustando, aprendendo, fazendo descobertas.

Como já se fez ver, a palavra "coerdeiro" aparece assim, sem hífen e sem "h", embora no texto oficial do Acordo seja citada a forma "co-herdeiro". O Vocabulário corrige o Acordo, baseando-se no consagrado "coabitar". Manter "co-herdeiro" obrigaria Bechara e sua equipe, em nome da coerência, a registrar, com hífen, "co-habitar".

Termo do jargão linguístico, "co-hipônimo" (por exemplo, cão e gato são co-hipônimos em relação ao hiperônimo mamífero) não é mencionado no Volp. Mas, seguindo o raciocínio anterior, perde o hífen. Será a partir de agora "coipônimo".

Já "coomologia", que na 4ª edição do Volp era "co-homologia" (termo da topologia algébrica... campo de estudo que não é para qualquer um), aparece também sem hífen.

Um caso estranho. Quem for acusado ou condenado pela participação com outra pessoa num mesmo delito será "corréu", e não mais "co-réu".

sexta-feira, 20 de março de 2009

Fato/facto consumado... ou não?

O jornal português Correio da Manhã anunciou que dará início à adaptação do jornal ao novo Acordo Ortográfico. Paulatinamente. Nem todos os textos serão escritos pelas novas regras: "A nova ortografia só se estenderá a todos os textos do jornal, respectivamente primeira página e manchete, quando já ninguém estranhar a palavra 'facto' escrita sem cê", declarou Octávio Ribeiro, diretor/director do jornal.

A resistência é grande em Portugal, como se o Acordo fosse imposição brasileira sobre aquele país. Num fórum em que se discute a Nova Ortografia, um internauta português fez a seguinte comparação: "É como se o inglês falado na Índia se sobrepusesse ao inglês falado na Grã-Bretanha, só porque os falantes são muito mais numerosos no país asiático do que no europeu."

O ouvido lusitano dói, se eu escrevo: "Cristo, de fato, morreu na cruz." Numa lógica linear, presa à letra, Cristo vestiu um terno e morreu crucificado. Perfeito. Mas também alguém poderia alegar que "terno", roupa, confunde-se com o adjetivo referente a sentimentos afetuosos. O contexto nos ajuda a descobrir em que sentido a palavra polissêmica está sendo empregada.

O fato é que o Acordo foi ratificado por Portugal. É fato consumado. Ou não?

quinta-feira, 19 de março de 2009

A história do hífen

O hífen é o pesadelo, o pomo da discórdia, a besta do apocalipse! É a pedra no caminho, a pedra de escândalo, o fim da picada.

Seria interessante alguém fazer a história do hífen, comparando-a com a história do apóstrofo, do til ou do ponto de interrogação. Certamente há coisas mais urgentes na vida, mas é como dizia Ortega y Gasset: o ser humano não quer apenas sobreviver, quer viver. E a nossa existência tem milhões de coisas assim, que parecem supérfluas, pura perda de tempo.

Vejam, por exemplo, as coleções. Há os que colecionam selos, moedas, cartões telefônicos, cartões postais, canetas, cardápios, conchas, gravuras, gibis, caixas de fósforos, camisetas, chaveiros, girafinhas e outros animais em miniatura — pinguins, corujinhas, burrinhos, rinocerontes, hipopótamos, elefantes, dinossauros... Para que, meu Deus, tantas coleções inúteis, enquanto morrem de fome milhares de crianças neste mundo?

E há quem colecione hifens, e até se preocupe em ter dúvidas sobre eles!

Ontem, uma pessoa me enviou a seguinte pergunta: "Trabalho em uma empresa de brinquedos educativos e gostaria de saber sobre o uso do hífen na palavra quebra-cabeça."

Aliás, quer melhor quebra-cabeça do que o próprio hífen? Sim, o tracinho trapalhão continuará na palavra "quebra-cabeça".

Uma curiosidade. O hífen também se chama traço-de-união, ou melhor, traço de união, sem hifens a partir de agora, segundo o Acordo.

Outra curiosidade. Poucos sabem que o hífen tem um irmão, o seu perfeito contrário, o antífen [#], sinal empregado pelos revisores para indicar a necessidade de separar palavras que se encontram justapostas.

terça-feira, 17 de março de 2009

Novo Guia

Precisamos de guias para os novos caminhos ortográficos. Não são tão complexos, mas exigem atenção. Tropeçar é fácil. O Museu da Língua Portuguesa começará a distribuir hoje, terça-feira, o Guia da Reforma Ortográfica.

O guia foi elaborado em parceria com a FMU, que o divulga em seu site.

Os responsáveis são os professores Adalto Moraes de Souza e Carlos Vismara, com a supervisão do professor Ataliba T. de Castilho, consultor do Museu da Língua Portuguesa.






domingo, 15 de março de 2009

O hífen da discórdia

O filólogo e gramático Evanildo Bechara, no Estado de S.Paulo de hoje, volta a falar a respeito do hífen, o tracinho trapalhão. Sobrou para ele, coitado. Para o hífen. Mas também para o gramático. Sobrou para nós também, lógico.

Bechara admite que o texto do Acordo vacila. Por isso, no Volp (prestes a ser publicado), tentou uma solução que preservasse a autoridade do texto oficial, sem multiplicar os problemas.

Concretamente, "para-quedas" passa a ser grafado sem hífen, "paraquedas", porque o Novo Acordo menciona expressamente esse exemplo, alegando que a noção de composição nessa palavra, "em certa medida", já se perdeu. Ninguém mais percebe que o paraquedas detém a queda do paraquedista...

O Acordo não cita a palavra "para-choque", uma vez que, provavelmente, ainda percebemos os choques a amortecer... O hífen aqui continuará firme e forte; o Volp assim o registrará. E "para-lama" também com hífen. Detalhe: os Paralamas do Sucesso nunca se preocuparam com isso.

sábado, 14 de março de 2009

Saberes ortográficos

Vou ministrar na Universidade Luterana do Brasil, em Carazinho (RS), o curso Reconstruindo Saberes Ortográficos, no dia 28 de março, sábado. Carga horária de 8h. As inscrições estão abertas na Central de Atendimento do campus e no site da Universidade.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Acordar melhor

O Acordo merece um acordar melhor — é essa a tese de um manifesto lançado no dia 11 de março.

É importante conhecê-los melhor (o Acordo e esse movimento que pretende fazer perguntas, colocar algumas decisões em xeque), é importante participarmos da discussão.

O movimento é polêmico. Como o Acordo.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Notícias de Aracaju

Outra boa iniciativa. A Secretaria de Estado da Educação de Sergipe promoverá amanhã de manhã, sexta-feira, dia 13, o seminário Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, com a professora Helena Tiyoko Andrade Vieira. O público-alvo são coordenadores e supervisores do Programa Alfa e Beto.

Notícias de Salvador

Recebo e repasso.

Hoje, dia 12, nas Faculdades Integradas Olga Mettig, palestra sobre "O Acordo Ortográfico – Dúvidas e Definições". Entrada franca. O palestrante é o professor José Nilton Carvalho Pereira, membro do Conselho Estadual de Educação da Bahia. Horário: 18h30. Local: Rua da Mangueira, 33, Nazaré.

É bom conhecer, participar dessas iniciativas, divulgá-las. Porque existem resistências e incompreensões ainda. E o Acordo tem suas falhas, provavelmente precisará de algum aperfeiçoamento.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Notícias do Rio de Janeiro

Se eu, hoje um carioca apaulistado, ainda morasse no Rio de Janeiro, não perderia a oportunidade. Teve início ontem, dia 10, na Academia Brasileira de Letras, o 1º Ciclo de Conferências de 2009 (no Teatro Raimundo Magalhães Jr., na Av. Presidente Wilson, 203 - 1º andar), com o tema "O Acordo Ortográfico".

A palestra inaugural coube ao acadêmico Domício Proença Filho (foto acima) sobre "A história da ortografia e a ABL". Daqui a uma semana, no dia 17 de março, outra palestra, ministrada por um dos "pais" da criança, Evanildo Bechara, que falará sobre "O novo Acordo Ortográfico e a elaboração do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa".

A entrada é franca. E, francamente, acontecimento imperdível.

terça-feira, 10 de março de 2009

O inimigo número 1 do Acordo

O poeta, ensaísta e tradutor português Vasco Graça Moura é o inimigo número 1 do Acordo.

Um dos principais signatários do Manisfesto em Defesa da Língua Portuguesa contra o Acordo Ortográfico, considera que Portugal não deve implementar as novas regras, e cita com frequência uma declaração de Pasquale Cipro Neto: "Não ficarei surpreso de Portugal não o colocar em prática. Aliás, sonho com isso. Seria maravilhoso se isso ocorresse".

Seria o fim do Acordo. No Brasil, ficariam incorporadas algumas mudanças que nos aproximam dos portugueses (a supressão do trema, particularmente), mas persistiriam diferenças que, na visão do ilustre escritor, são intocáveis.

domingo, 8 de março de 2009

Colisão ortográfica

O asteroide passou raspando, mas a colisão ortográfica aconteceu na última edição da revista IstoÉ.

Por mais que todos estejam sabendo... o perigoso objeto com acento não foi detectado por três vezes no espaço da revista.

O pessoal da Veja (07 de março) também dormiu no ponto: "Asteróide gigante perto da Terra". O jornal Zero Hora (03 de março) acertou: "Asteroide passou de raspão pela Terra".

sábado, 7 de março de 2009

Dúvidas pequenas e grandes

Uma pessoa me pergunta: "O certo é auto controle ou auto-controle??"

O certo é "autocontrole", antes e depois do Acordo. Mas a pergunta mostra que às vezes perdemos o controle e já não sabemos o que mudou ou deixou de mudar.

São dúvidas grandes ou pequenas, não importa. Outra pessoa me perguntou como classificar as letras que foram agora incorporadas ao alfabeto português: K, W e Y.

Essas novas (mas antigas!) letras deverão ser classificadas em vogais ou consoantes conforme a pronúncia. O K será sempre consoante, pois sempre é pronunciado como o C antes de A, O, U, e como o dígrafo QU antes de E e I. Já o Y será vogal (ou semivogal), porque normalmente é pronunciado como I.

A letra W é mais versátil. Pode ser vogal ou consoante. Será vogal ou semivogal em "show", "Windows", "whisky", "Wikipédia"... Ou consoante, em "wittgensteiniano", "Volkswagen"...

Há quem afirme que devemos chamá-los ainda de empréstimos linguísticos, mas acredito que o Acordo lhes deu plena cidadania.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Presente de aniversário

Acabo de saber que o lançamento do tão esperado Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras foi adiado mais uma vez! E para o dia 25 de março.



Vai ver escolheram essa data porque é o meu aniversário. Já sei que presente eu vou ganhar!

quarta-feira, 4 de março de 2009

Resumão

O Novo Acordo ganhou no mês passado a primeira edição de um resumão, a cargo do Prof. Odilon Soares Leme, autor de vários livros, entre os quais um especialmente importante — Colocação Pronominal, publicado pela Editora Manole.
O resumão não é puro resumo, não! Há comentários interessantes e pertinentes, alguns deles alertando para a necessidade de esperarmos o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, a sair nesta semana!

terça-feira, 3 de março de 2009

Brasil e(m) Portugal

O Acordo tem múltiplas consequências. Uma delas é que, apesar dos pesares, das incompreensões, dos preconceitos ainda existentes (alguns portugueses, mais radicais, dizem que no Brasil nós falamos o "pretuguês"...), apesar de tudo, essas discussões trouxeram à tona o fato/facto incontestável: assim como Portugal sobrevive no brasileiro, o brasileiro também se encontra em Portugal...

Esta reportagem é bem ilustrativa.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Hífen não!

Ontem, em seu artigo no Estado de S.Paulo, Evanildo Bechara afirma (e o que ele afirma, no âmbito da ortografia, hoje, no Brasil, é lei) que não se emprega mais o hífen com o advérbio "não" com função prefixal: não agressão, não alinhado, não combatente, não violência, não ficção, não participação, não fumante, não beligerante...

Todos estão cientes desta novidade? No jornal O Globo já li algumas vezes "não-ficção", e é assim também, com hífen, na lista dos mais vendidos da Revista Veja. No próprio Estadão, em 30 de janeiro deste ano, um dos títulos do caderno de notícias internacionais era: "Coreia do Norte anula acordo de não-agressão com Seul", acertando o "Coreia", mas errando no hífen de "não-agressão".